sábado, 17 de setembro de 2011

Restos

Agora só me resta o papel
A caneta, o copo e o vazio
Um cigarro e uma inspiração....

Só me resta um resto de som,
Um cinzeiro e um vinho barato
E um pouco de solidão....

Minha cama me suporta, e com ela
Me consolo entre a noite deserta
E um sábado quase em vão....

Mas ainda me sobra um orgulho,
Um sonho e um projeto de vida,
A fumaça e uma pobre ilusão....

Ai de mim, se não fosse o papel,
A caneta e o luar amigo,
Eu seria mais só: solidão.

18 de setembro de 1999.

Choro poético

Meu poema nasce do nada
Incrusta-se no ventejar da noite
Deixa-se cair junto à angústia das janelas
Junto aos clamores dos edifícios
Da metrópole adormecida.

Meu poema é besta-fera suburbana
Clama, gemendo por calor humano
Meu poema é máquina, é androidiano
Meu poema clama insano, insano.

Meu poema pobre, embriagado
Auto-destrói-se, inconsciente, mudo
Inconsolado, chora, meu poema.

Meu poema cala inutilmente
Enquanto minh’alma arde a tua procura
Sem norte ou sul, silencia meu poema,
E insiste incrivelmente em viver
.... caladamente o meu poema.

John Charles, Belém, 18/08/2001.

Alma Gêmea

Entre o suspiro preguiçoso da manhã
Nas horas mortas dessa indecisão
Eu te procuro, ó Alma dos meus sonhos
Eu te anseio nessa solidão

Maravilhosa Musa que me habita
O território doce da ilusão
Te procurei por horas e minutos
Não te encontrei, foi uma busca em vão

Mas apesar de não te ter nos braços
Eu sei que és minha, ó terna Alma Gêmea,
Pois teu nome meigo adoça a minha boca
E tua imagem etérea, me acompanha sempre
No frio do dia e na escuridão da noite......

John C
Julho de 1998.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Soneto de amor distante

Quanto mais dela encontro-me distante,
Mais eu a vejo em meus sonhos de amor
E em todos os lugares onde estou
Sua imagem santa é minha acompanhante

Quanto mais tempo dela eu fico ausente,
Mais nela penso e mais eu me apaixono
E já me basta ao menos esse sonho,
Essa ilusão perdida, mas presente

Quanto mais dela me afasta o destino
Mais a paixão me traz sua lembrança
E não me importa mais se nem a vejo

Pois já me vale um resto de esperança
De um dia ter com ela em meus enleios
E vê-la assim passar o meu caminho.

John Charles, Belém (PA), 1994.

O teu silêncio

O teu silêncio já não fala mais
Palavras meigas que tua voz esconde
O teu silêncio agora cala em homenagem
Ao meu instante fugaz, e teu semblante
Do outro lado, imaculado jaz.

O teu silêncio já não deixa ver
A imagem que tua voz já projetava
Embaçou-se o vidro claro de tua alma
Só restaram as reticências rarefeitas
No lugar onde existiam formas

O teu silêncio me penetra a mente
Deixa-me incomodado e calmo a um só tempo
Deixa-me desconcertado o teu silêncio
E me transmite paz noutro momento
Tudo isso me faz o teu silêncio

O teu silêncio brando como um vento
Sopra-me uma ligeira inspiração
Gera-me versos em cadenciamentos
Desperta em mim um sonho de verão
Versos vibrantes, gera o teu silêncio.

John Charles, 09/12/2003.

domingo, 11 de setembro de 2011

Trânsmuto

Avisto-me nublado
Anoitecido...
Pávido

Pressinto-me trovão
E assim tremido...
Mórbido

Vejo-me escurecido
Na solidão...
Frágil

Na derradeira gota
Que de mim cai...
Gélida

Procuro reagir
Reavivar-me...
Tácito

Acendo-me aos poucos
Vejo meus raios...
Áureos

E esquento-me, vulcão
Já n'alvorada...
Próspera.

Espanto-me já claro
amanhecido
Plácido.

Belém, 12 de setembro de 2011.

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

O ser e o nada

Perdido entre as palavras,
Tento encontrar alguma
Que traduza
Um sentimento não traduzível.
Essa nossa eterna mania de querer
Classificar
Categorizar
os sentimentos...
Sentimentos são
Apenas
Sentidos?
Sentidos são
Apenas
Emoções classificadas.
Quanta metafísica,
Quanta semiótica
embutida em nosso ser
Seremos eternos semânticos?
Chega de vírgula,
Eu quero um ponto final
Agora!
Já!
Encerrar essa cena
Esse cenário filológico
Filosófico.
Não quero mais essa gramática
Só quero existência
Só quero ser
Só quero o nada
contido na interrogação.
Chega de senso
Chega de verdades
Chega de traduções
Quero apenas o início
Isento
Puro
Quero apenas o ser
e o nada.

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Ebriedade poética

Hoje eu quero tomar um porre de poesia
E depois de vomitar metáforas desgastadas
E após limpar a boca em fecundo borrão,
Despertar com a doce ressaca da inspiração.

Belém 10 de agosto de 2011.

Ávidas palavras

Ávidas palavras
Ah! vida, Palavras
Há vidas, Palavras
À vida, Palavras
Há vida palavras
Ave, das Palavras
Havidas palavras
A vida, Palavras...
Ávidas....Palavras...
Ávidas, Palavras
Ávidas palavras.

Belém, 03 de setembro de 2011.