sábado, 29 de dezembro de 2012

Apenas

Hoje eu não quero frases feitas,
nem amores com finais felizes
Eu quero apenas escolher
que parte do trevo
me trará
mais
sorte.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Natural

Eu tenho braços de árvore
E olhos de lua cheia, ás vezes quarto crescente,
quando só no meu quarto.

Meu coração é uma estrela solar,
Que às vezes, em certas estações, se torna
Uma enorme calota polar

Minhas lágrimas de sereno
Não chegam a inspirar serenatas
Eu suspiro nos ventos noturnos
E brisas soturnas me inspiram

Sempre que posso me embrenho
Nas matas da minha solidão
Me protejo no silêncio da noite
Eu ouço a melodia serena das folhas

Sou todo natureza, e minha porção social
É o que me remove de minha raiz
e me arranca os braços e me apaga a estrela
e me faz morrer nas ruas civilizadas da metrópole.

domingo, 18 de novembro de 2012

Noite

Porque um dia o amor me fez acreditar que valeria a pena contar todas as estrelas....
Hoje ele me ajuda a entender essa lua acesa apenas pela metade.

Assim

Assim que a noite cair,
Eu serei novamente o teu poeta
E tu serás de novo a minha musa
E a vida será o nosso palco
E a nossa comédia será triste
E a nossa tragédia será alegre.

terça-feira, 13 de novembro de 2012

Por quê?

Por que toda essa saudade da madrugada
Se a noite, com sua pulseira de estrelas,
ainda nem me deixou...?

Por que toda essa ânsia vã de insônia
Se o sono doce e suave dos justos
sequer pra mim bocejou...?

Por que todo esse amor abafado no peito
Se o fel (e o mel) da tua paixão insana
Em meus lábios quiça secou...?

Belém, 13 de novembro de 2012.

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Musa do Deserto

Teu eterno corpo sensual
Faz lembrar os deuses do Olimpo
Tua imponente beleza natural
É o equilíbrio entre o forte, o belo e o simples.

Perco-me entre a majestade dos teus seios
E teus suspiros embriagam-me por inteiro
Perto de ti até os anjos sentem-se feios
Queria retroceder no tempo:
Ser teu último e teu primeiro.

Tua beleza é a miragem refrescante
Que sacia a ilusão sedenta do poeta
És a musa proibida, inacessível
Mesmo quando estás por perto.
Contradição, paradoxo, exceção; falso profeta.

Colocarei aos teus pés o meu mundo
Para que a luz que emana do teu corpo
Satisfaça todos os meus desejos de prazer intenso
Mais intenso até que o prazer
Que me trouxe à luz do mundo.

John Charles Torres
Belém, Dezembro de 1999.

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Procura

Eu me procuro.
E não me encontro como antes
Eu me procuro,
Mas meu espelho está quebrado
E as roupas jogadas na cama
Desarrumada.

Sim, minha vida procura um rumo,
Mas no momento só tenho rimas,
Pobres, saturadas.
Mas eu me procuro

E entre noitadas e ressacas,
Entre conflitos exacerbados,
Entre amores mal amados,
Me vejo por entre as frestas,
Que deixam passar vagamente
A luz cansada da solidão,
Essa que me atinge
E me revela a face já desfeita;
Meu peito cálido,
Meu corpo calejado

Mas eu me procuro
E entre as trevas dessa solitude
Entre as neblinas desse tédio nu,
Eu só me vejo só solenemente.
Ouço meu grito aterrador e lúgubre
Provir das profundezas do deserto,
Esse deserto que é minha’alma agora
Agora não, faz tempo, não me nego
Não nego que hoje apenas me procuro
E se me encontro é sob tempestades,
Sob fogueiras, chama; inquisição!
Vejo meu corpo só, desalentado,
Desprotegido a tremer no chão.

Depois eu durmo e a noite é infinita
E eu me procuro e o sono não termina
E não me acho nessa solidão....

Dezembro de 1995.

Apenas por um minuto


“O amor é cauteloso, constrói
pacientemente o seu delírio”
                   (Érico Albuquerque)
                              
Queria ter apenas uma chance
De criar uma ilusão abstrata,
De aflorar essa ilusão
...apenas por um minuto

Queria te possuir em pensamento
E prolongar esse pensar
Na minha eternidade limitada
... apenas por um minuto

Queria poder te tocar
E perpetuar esse toque
Mesmo que em meus sonhos tímidos
... apenas por um minuto

Queria apenas um olhar sincero
Que resgatasse em mim uma esperança
Ainda que breve e passageira
... apenas por um minuto

Queria ficar a sós com minha dor
E espairecer essa tristeza na cerveja
Não importa se quente ou se gelada
Mas... apenas por um minuto.

Junho de 1996

Quero um pouco de poesia ou Soneto contra a modernidade

Todo mundo precisa de um canto,
De encontrar-se com seus pensamentos,
De fugir desse mundo sangrento,
E encontrar no silêncio o acalanto

Todo mundo de paz necessita,
De um minuto de reflexão,
De exprimir no papel emoção,
E escrever o que pensa da vida

E apesar desse mundo moderno
Que não tem mais lugar pro lirismo,
Ainda quero escrever um pouquinho

E ocupar com meu verso esse abismo
E mostrar que a poesia é o caminho
Pra tirar esse mundo do inferno.

1º de maio de 1996.

Canção Cintilante

Se eu fizesse uma canção
Que falasse de beleza
Falaria com certeza
Desses teus olhos brilhantes
Parecidos diamantes
Em tua face de princesa

Se eu fizesse uma canção
Que falasse de harmonia
Com certeza falaria
Dessa humilde perfeição
Que teu corpo evidencia
Entre as cores do verão

Se eu fizesse uma canção
Que falasse de desejo
Certamente que teu beijo
Estaria entre os refrãos
E a tua doce presença
Nas notas dessa canção

Se eu fizesse uma canção
Que falasse de amizade
Falaria com saudade
Das nossas longas conversas
Ao longo daquelas tardes
Em que cada gesto incerto
Era pura descoberta....

24 de março de 1998

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

ANTÍTESES


Esse sol iluminado e forte agora
Pra mim é mais escuro que a noite,
Que a noite mais soturna e assombrosa.
A brisa amena que afaga as folhas do jambeiro
A mim devastam-me as ilusões como um tufão

O riso dos meus nobres comensais a mim me são
Os mais ululantes brados de terror, e minha cama
Um antigo e frio caixão a me esperar impávido.
O amanhã, esse profeta do acaso, é o meu passado
E minhas crenças sãs agora apontam-me o caminho
Das cruéis esperanças que criei.

12/09/2012
J. C. TORRES

quinta-feira, 22 de março de 2012

Aliterações Plúvicas

A melodia melancólica da chuva e o azul cinzento do céu me dão a dor e o tom para o próximo e pungente verso: Nem mesmo meus olhos, na mais nublada e dramática depressão, derramariam lágrimas tão tétricas como essas que agora caem ao meu lado.

Belém, 22 de março de 2012.

segunda-feira, 19 de março de 2012

A magia da literatura


Na quinta-feira passada, eu numa loja popular do Shopping Doca Boulevard, surpreendo-me com um simpático senhor, comentando a dificuldade de ver o preço de um casaco... Após trocar umas duas palavras com ele, descubro tratar-se do poeta Ronaldo Franco, ao que me apresentei informando o local onde havíamos nos conhecido - a então redação da moribunda Província do Pará -, através de um grande amigo em comum: o saudoso jornalista, escritor e poeta Ronaldo Bandeira.
Nos cumprimentamos, rimos e ficou para mim a seguinte reflexão: AS LETRAS NÃO SE MOVEM SOZINHAS DE UMA GERAÇÃO PARA OUTRA; ELAS PRECISAM DE HOMENS, QUE AS RABISQUEM A OUTROS, E ASSIM POR DIANTE, PARA QUE SE FAÇA A MÁGICA DA LITERATURA.

sábado, 10 de março de 2012

ISENTO


Estou nu, liberto, deserto,
Estou simples, singelo, sincero,
Pronto para o próximo poema, dilema.
Despejando verdades, e moralidades.
Quero comer a realidade crua, sem temperos.

Dos erros, quero a pura ingenuidade.
Erguer-me sobre as impurezas da verdade.
Eu quero a cria, a rima fria.
Chega de congelados, de enlatados, de plus.
Só quero a cara. Sem máscaras, sem maquiagem.

Quero a vida, limpa, isenta, não pronta.
Só para eu viver claro.
Puro, inseguro.
Só para eu começar.
Tudo.
De novo.
Sozinho.
Belém, 10 de março de 2010.

sábado, 28 de janeiro de 2012

Proporção

Sou meu próprio diamante e minha própria cinza;
enfim, meu próprio universo.
Meu arbítrio não é livre, é liberto.
Sou do tamanho de minhas próprias verdades.
Minha crença é própria, não emprestada.
Meu amor próprio é a medida de tudo que tenho.
Se eu me achar rico, é na minha simplicidade.
Na verdade, eu sou Deus, na medida de minha fé.

domingo, 22 de janeiro de 2012

Convite

Venha comigo povoar o infinito com sementes de paixão
Descobrir a vida em desertos de solidão
Achar amor nas fossas da desilusão
Vem, sabendo que a certeza
É só mesmo mais um grão
Que bem regado, então
Abre-se rosada flor,
Mas sem água,
Não

Ávidas palavras

A vida, palavras
Há vida, palavras
À vida, palavras
Ávidas palavras.

Reescrevendo

Do intervalo de cada sílaba
Retiro restos de ressentimento
Tento esvaziar as palavras
Das sobras de angústia e solidão

E construir um novo verbo
com fonemas renovados
pela sintaxe da esperança,
cheio amor desinencial

Tento imprimir-me no espírito
uma gramática da paz
rabiscar com lápis lúcidos
serenidades substantivas

E assim, escritor do futuro,
tentarei conjugar insistentemente
o equilíbrio na intensidade
rimar paixão com sanidade

Criar a sentença quase perfeita
Refazer minha existência frasal
Encontrar a cadência adequada
Isenção semântica pra todo o mal.

John Charles Torres
Belém (PA), 22/01/2012.

domingo, 15 de janeiro de 2012

Palavra e silêncio

Palavra e silêncio.
Eles formam um casal perfeito.
Que se completa e se alimenta.
Um da qualidade do outro.
E juntos, assim, pela eternidade semântica.
Seguem numa dialética humana.
Um falando, a outra calando.
Um calado, a outra falada.
Uma silenciando, o outro falando.
O silêncio é lenço, a palavra o documento.
Um assina sua sina no outro.
Os dois, solidários, saciam-se.
Assim, sintaticamente.
Eu sou palavra, eu sou silêncio.
Enquanto minha dor cala-se, fala o meu amor.

John Charles Torres, Belém (PA), 15/01/2012.