segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Procura

Eu me procuro.
E não me encontro como antes
Eu me procuro,
Mas meu espelho está quebrado
E as roupas jogadas na cama
Desarrumada.

Sim, minha vida procura um rumo,
Mas no momento só tenho rimas,
Pobres, saturadas.
Mas eu me procuro

E entre noitadas e ressacas,
Entre conflitos exacerbados,
Entre amores mal amados,
Me vejo por entre as frestas,
Que deixam passar vagamente
A luz cansada da solidão,
Essa que me atinge
E me revela a face já desfeita;
Meu peito cálido,
Meu corpo calejado

Mas eu me procuro
E entre as trevas dessa solitude
Entre as neblinas desse tédio nu,
Eu só me vejo só solenemente.
Ouço meu grito aterrador e lúgubre
Provir das profundezas do deserto,
Esse deserto que é minha’alma agora
Agora não, faz tempo, não me nego
Não nego que hoje apenas me procuro
E se me encontro é sob tempestades,
Sob fogueiras, chama; inquisição!
Vejo meu corpo só, desalentado,
Desprotegido a tremer no chão.

Depois eu durmo e a noite é infinita
E eu me procuro e o sono não termina
E não me acho nessa solidão....

Dezembro de 1995.

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